Clovis Travassos e Patricia Travassos
Pensa naquela imagem clássica de “Tempos Modernos” em que o Charlie Chaplin fica preso às engrenagens da indústria. Se nos deixássemos controlar pelo bom e velho “sempre funcionou assim”, a produção independente documental não sairia do lugar. Agora, direcionando a mesma criatividade capaz de gerar projetos para propor novos modelos de negócio, tirar proveito da descentralização de mídias e combinar a potência das comunidades com as novas tecnologias, começam a surgir novas oportunidades. E a engrenagem muda de nome: vira parceria.
“Atualmente, trabalhamos em conjunto com mais de uma dezena de empresas ligadas ao universo da cultura e que têm capacidades muito específicas para nos ajudar a resolver questões comerciais, legais e técnicas. São parcerias estratégicas que têm sido fundamentais para viabilizar os nossos projetos, da captação à distribuição”, afirma Clovis Travassos, sócio e diretor executivo da Prosa Press, um hub de conteúdo que só em 2022, lançou três documentários autorais e produziu uma série de TV, além de concluir as gravações de outros dois projetos não-ficcionais que vão virar o ano em fase de pós produção, para saírem do “forno” no primeiro semestre de 2023.
Qual é o sonho de quem produz conteúdo autoral? Ser assistido pelo maior número de pessoas possível, certo? Chegar à audiência certa faz a “roda” girar e viabiliza a produção inteira. Deixa patrocinadores satisfeitos, valoriza e garante o trabalho dos profissionais envolvidos no processo e faz reverberar a mensagem construída pela obra. Ou seja: é um ganha-ganha geral.
Há quem aposte na nova geração como o público que vai ajudar a ampliar o espaço para o gênero documental nas janelas de exibição. Os jovens que já cresceram ligados no YouTube, buscam documentários para se informar e ganhar repertório sobre os mais variados temas. “Talvez, eles nem chamem os filmes assim, pelo nome de ‘documentário‘, mas quando querem se aprofundar em temas cotidianos atuais preferem vídeos a livros”, acredita Patricia Travassos, fundadora da Prosa Press.
E enquanto os filmes mais reflexivos e menos comerciais não conquistam mais destaque, a Prosa Press articula com outros documentaristas a criação de uma plataforma específica que organize e disponibilize a produção atual, a partir de uma curadoria que reúna qualidade, relevância e linguagem inovadora. “Foi uma ideia que surgiu em conversas com o Leonardo Brant, fundador da DocStation e sócio da Deusdará. Ele sente a mesma dor na hora de distribuir os filmes deles. Então, por quê não transformar essa vulnerabilidade em potência, unindo forças? Pesquisando sobre as startups aprendi que para todo problema existe uma solução. E para mim, ela está nessa coopetição (quando concorrentes passam a colaborar entre si). Nesse mercado, não pode existir competição. Somos todos produtores de pensamento, de cultura e arte. Precisamos nos unir para sermos mais vistos, um levando público para o outro e ajudando a conquistar mais e mais mercado”, completa Patricia.
A safra de 2022:
A primeira “safra” de projetos da Prosa Press começou a ser colhida em 2022, com o lançamento de uma trilogia que reflete o posicionamento adotado pela empresa há cerca de sete anos. “Nós decidimos nos aprofundar no tema inovação com o intuito de mapear tendências e traduzir para o público leigo o impacto que a tecnologia tem hoje na vida de todos”, diz Clovis Travassos.
Em junho, foi lançado o documentário “Inspira“. Um filme sobre conexões humanas – o primeiro passo para inovar. O longa reúne 10 personalidades inspiradoras do pensamento brasileiro, tais como Ailton Krenak, Lenine, Itamar Vieira Junior, Thiago Ventura, Julia Rocha, Paola Antonine, entre outros. Exaltando a memória coletiva, o doc foi exibido ao público pela primeira vez na semana de reabertura da Cinemateca Brasileira. Depois, chegou ao metaverso, com a criação de uma galeria virtual que compartilha imagens dos bastidores da produção. E agora, a obra está disponível na Plataforma Looke e no YouTube, seguindo uma jornada de divulgação que aposta no engajamento das redes sociais dos próprios protagonistas. Juntos, eles somam mais de 12 milhões de seguidores.
No dia dos professores, a Prosa Press lançou o documentário “Educação presente para o futuro” num evento que reuniu profissionais da área no Itaú Cultural, em São Paulo. O média-metragem foi exibido no Canal Futura e está disponível, gratuitamente, na Globoplay. O filme mostra que a verdadeira conexão, capaz de reduzir a evasão de alunos e aumentar o prazer no aprendizado, se dá entre a sala de aula e os desafios do seu entorno, qualquer que seja a realidade onde a escola está inserida. A narrativa é conduzida por seis jovens ativistas que foram reunidos no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, para pensarem juntos sobre o futuro da educação. Além deles, o documentário reúne também alguns projetos premiados criados em escolas públicas e particulares de norte a sul do país que adotaram metodologias ativas ligadas à tecnologia, colocando o aluno no centro do processo de aprendizagem.
E na semana global do empreendedorismo feminino, em novembro, lançamos o terceiro documentário do ano: o “Inovar é um parto“, que retrata a força e os desafios do empreendedorismo feminino a partir de histórias de fundadoras de startups de impacto. Elas mostram os desafios e conquistas das mulheres que abraçam a tecnologia para combater a fome, a violência doméstica, a pobreza menstrual e o preconceito racial. As soluções que elas criaram buscam ainda a inclusão digital, a saúde emocional e íntima das mulheres. O documentário resulta no retrato de um movimento potente, formado por uma rede de mulheres lindamente conectadas. Uma verdadeira revolução para a sociedade brasileira. O filme foi exibido na Globonews e também está disponível no Globoplay e em outras plataformas de streaming que atingem públicos mais abrangentes (como a Looke) com outra mais direcionada, como a mantida pela B2Mamy, uma aceleradora de negócios femininos e alcança uma rede ativa de 50 mil mulheres. “É como se escolhêssemos a dedo as pessoas que têm tudo a ver com o conteúdo que produzimos para realmente fazer a mensagem do filme atingir o objetivo de sensibilizar, motivar e fazer a diferença”, explica Patricia.
Perspectivas para o futuro
O núcleo de Projetos Originais da Prosa Press já está trabalhando na montagem de dois documentários que viajaram pelas cinco regiões do país para investigar como funcionam os principais pólos de inovação brasileiros. Quando se fala em ecossistemas de inovação, os brasileiros conhecem mais do Vale do Silício do que do Porto Digital, por exemplo, que revitalizou o centro velho do Recife e está formando talentos para trabalhar em tecnologia. Por isso, como num passeio para descobrir os sabores típicos de cada região, viajamos pelo Brasil para descobrir os ingredientes que geram a inovação brasileira. Além disso, outros quatro filmes devem ser produzidos ao longo de 2023.
“Queremos continuar produzindo conteúdos que tenham vida longa e que gerem entretenimento, impacto e provoquem reflexões para o público que assiste aos nossos filmes”, conclui a diretora Patricia Travassos.